segunda-feira, 25 de março de 2019

Professor, para que serve a Matemática em meu dia a dia? [Parte 1]

Professor, para que serve a Matemática em meu dia a dia? [Parte 1]



[Logo acima há o áudio desta postagem. Assim, você pode ler ou pode ouvir (às vezes eu faço alguns comentários adicionais). Se você está em um smartphone, terá a opção de reproduzir no aplicativo da SoundCloud ou Reproduzir no Próprio Navegador.]

Professor, pra que servirá matemática em meu dia a dia? Qual o professor que nunca ouviu essa pergunta? É uma pergunta que o estudante tem o direito de fazer, mas será que podemos responder a indagação de forma satisfatória? Nesta postagem vamos falar sobre a relação entre usar no dia a dia (usar no cotidiano) algo que se tenha aprendido na escola e ter aplicação. Em postagens posteriores vamos desenvolver mais essa ideia.

A pergunta sobre a utilidade no cotidiano do estudado na escola não precisa ficar restrito à matemática. Se reparar bem, em que usamos a Química estudada na escola? E a Física, Biologia etc? Você não vai encontrar utilidade direta em seu cotidiano para muitos assuntos estudados na escola, mas não é por isso que eles são inúteis e não deveriam ser estudados.

Professor, para que serve a Matemática em meu dia a dia? [Parte 1]
Imagem: www.freepik.com

 
Seria interessante que o estudante percebesse que na escola se tem acesso a um pouco do que a mente humana já produziu de conhecimento ao longo da nossa existência. Então, faz sentido estudar um pouco de Química, Física, Biologia, Matemática, Artes, Literatura, História etc. A escolha do que estudar não é, necessariamente, pensando em uma aplicação direta em seu cotidiano, embora parte do estudado seja possível usar em suas vida diária.

Na construção de um Smartphone, por exemplo, está embutido ali, várias áreas de conhecimento trabalhando juntas para produzir este artefato. Há muita Química (a própria bateria é um artefato químico),  Física, Matemática (o próprio computador é um artefato matemático), Eletrônica, Programação etc., mas não é exatamente a parte elementar destas áreas de conhecimento.

Algumas matérias estão mais próximas do cotidiano

Algumas componentes curriculares (matérias, disciplinas) conseguem, penso eu, fazer com que os extremos "o que eu estudo" e "o que eu uso em minha vida diária" fiquem mais próximos. Língua Portuguesa e Redação a proximidade é óbvia, mas as línguas estrangeiras também são exemplos que vale a penas citar. Saber o básico de inglês, por exemplo, coloca você em contato com a fronteira do conhecimento humano, pois a ciência fala em inglês. Quer saber o que está sendo produzido em termos de ciência e tecnologias de modo geral? Aprenda inglês. :-)

Em uma escala bem menor poderíamos até colocar o espanhol e acrescentar a facilitação da comunicação e diminuição das gafes com os falsos cognatos (quando se sabe um pouco mais de espanhol). Nós, brasileiros, pensamos que falamos um portunhol de primeira, mas não é verdade. Há várias "pedras" no caminho de uma boa comunicação em espanhol. De modo geral, penso que as Línguas Portuguesa e  e as Estrangeiras Modernas são as mais próximas do cotidiano.

Outras componentes curriculares que vejo os estudantes podendo fazer conexões diretas com o cotidiano é a Geografia, História e Sociologia. Vivemos em um mundo que está constantemente se movimentando do ponto de vista Político e Geográfico. Além disso a Geografia se preocupa também com o estudo do Meio Ambiente, População, Urbanização, Fontes de Energia, Agricultura e outros assuntos que estão diretamente ligados ao nosso cotidiano.

A História e a Sociologia permitem que entendamos como chegamos onde estamos hoje. Por que o mundo é como é? Quais escolhas (certas ou erradas) foram feitas no passado que nos trouxeram até os dias atuais? Qual dinâmica de sociedade temos aqui, qual temos ali e acolá? O que há de melhor ou pior em cada uma? Enfim, penso que essas componentes curriculares conseguem colocar mais próximos os extremos "o que eu estudo" do "o que eu uso em minha vida diária".

Eu arriscaria rabiscar um universo de componentes curriculares parecido com o que se vê na figura seguinte em que quanto mais próximo ao centro, mais fácil é para o estudante perceber a conexão entre o que é estudado em sala de aula e a vida cotidiana. Entretanto, isso pode mudar, dependendo de onde uma pessoa vive, com quem convive, suas necessidades diárias, se tem o que comer ou não, etc. É apenas uma ideia e você pode discordar nos comentários abaixo. :-)


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Diferença entre usar no dia a dia e ter aplicação

Entenda que não usar no cotidiano, não é sinônimo de ser inútil e isso se aplica à maioria das áreas de conhecimento. Talvez, ao invés de procurar por onde usa em seu dia a dia devesse procurar por aplicações. Para praticamente todos assuntos estudados na escola, há aplicações, mas elas não necessariamente será vista no cotidiano simples da maioria das pessoas.

Talvez fosse interessante mudar o tipo de pergunta. Por exemplo: ao invés de perguntar onde se usa, em seu cotidiano, o que estuda sobre Progressões Geométricas, pergunte onde pode ver Progressões Geométricas (PG) aplicadas? Há muita PG em Matemática Financeira quando, por exemplo, se faz o cálculo do valor das prestações com valores iguais ao pegar um empréstimo no banco.

O crescimento de populações (inclusive a humana) crescem obedecendo a uma Progressão Geométrica (que se olharmos o tempo continuamente se torna uma exponencial). No Brasil a população cresce a uma taxa de 1,26% ao ano. Isso quer dizer que se a população hoje é $P_0$, a população daqui N anos será $P_0.(1+1,26/100)^{N}$, ou seja, daqui N anos, a população será $P(N)= P_0.(1,0126)^{N}$. Com isso o próprio estudante pode fazer algumas previsões como: qual será a população do Brasil no ano de 2050? E no ano de 2100?

Vamos a outro exemplo. Ao invés de perguntar onde usa trigonometria em seu dia a dia, pergunte, onde pode ver trigonometria aplicada? Você verá que a trigonometria é usada, por exemplo, para fazer cálculo de distâncias inacessíveis. Por exemplo: não é possível colocar uma fita métrica do topo de uma montanha até o pé dela para saber a altura, aproximada, desta montanha, mas a trigonometria permite que se faça esse cálculo.

A trigonometria tem várias aplicações (embora não você não vai usar isso para ir à padaria, farmácia, supermercado ou em um banco). Com trigonometria básica conseguimos medir a largura de um rio sem sequer molhar os pés e para isso, precisamos, basicamente, de um Teodolito, um aparelho usado para medir ângulos (que pode ser caseiro) e uma trena ou fita métrica. É possível saber a altura de um prédio, uma montanha e até o raio da Terra.

Poderia citar N outros exemplos. Na verdade, os livros de matemática já trazem essas aplicações. Os itens do ENEM também já cobram conhecimentos matemáticos em problemas que são aplicações para conteúdos estudados na escola. Mesmo assim, vários estudantes insistem em achar que tudo isso é inútil porque não tem aplicação no dia a dia. Como já dito, a matemática do dia a dia é aquela estudada até o 7º ano (antiga 6ª série). Depois disso temos aplicações diversas, mas que não será algo que se usa no cotidiano.

Uma palavra rápida com quem ensina :-)

Agora, é necessário fazer uma meia culpa entre nós professores: precisamos dar contexto ao que se estuda. Estudar um assunto e não colocar esse conhecimento a serviço de resolver algum problema faz com que o que se estuda pareça inútil. Precisamos, penso eu, atentar para esses contextos ou seja, buscar pela significância daquilo que se está estudando.

Outra coisa que pode ser interessante é buscar por contextos históricos. Em que momento esse conhecimento foi desenvolvido? O que estava acontecendo no mundo nesta época? Por que foi importante? Que tipo de problema foi resolvido a partir desse desenvolvimento? Estudar matemática pode ser também entender um pouco de história. =D. Acho que esse assunto merece até uma postagem só para ele. :-)

Voltemos ao ensino, contexto e significância. Se ensinamos o que é uma função, depois o que é uma função quadrática, como encontramos os zeros desta função, ponto de máximo (ou mínimo), valores que geram esses valores máximos (ou mínimo), mas não resolvemos nenhum problema usando isso, aí realmente deixará a impressão de que não é útil. Vamos detalhar melhor esse exemplo na próxima postagem.

Esta publicação ficou muito grande e por isso resolvi separar ela em mais de uma (talvez três) e na continuação (deixarei os links aqui assim que ficarem prontas) vamos falar justamente disso: um contexto para um assunto estudado em sala de aula. Se você é professor, dê uma olhadela NESTA ATIVIDADE envolvendo Teodolito e Cálculo de Distâncias Inacessíveis. É possível dar significado para vários assuntos estudados em trigonometria.

Continuamos essa discussão nas próximas postagens:

Tudo de bom
Luís Cláudio LA

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