domingo, 24 de abril de 2022

A Alegoria da Caverna e a Religião

A Alegoria da Caverna e a Religião

A Alegoria da Caverna é uma metáfora narrada por Platão, que continua bem atual, diga-se de passagem, em que é possível traçar vários paralelos com a vida de hoje e é sobre um desses paralelos que quero falar neste pequeno texto: a religião.


 

Fonte imagem: https://conhecimentocientifico.com/mito-da-caverna-2/ 

 

 

Clique AQUI e conheça o Programa:  

Entenda o que é neste vídeo de pouco mais de 1 min.

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A referida alegoria está em um livro chamado A República, obra que discute a teoria do conhecimento, linguagem e educação para a construção de um Estado ideal. Um tema bem atual, se parar para pensar.

 

 

Veja mais detalhes sobre o livro AQUI.

A Alegoria da Caverna

Neste livro (acima) Platão narra um diálogo travado entre Glauco e Sócrates, em que este conta uma história a Glauco para falar-lhe sobre o conhecimento humano. Para isso ele usa este recurso linguístico que hoje chamamos de alegoria para tentar explicar senso comum do mundo sensível em que muitas pessoas acreditam no que os seus sentidos lhes proporcionam. Na outra ponta estaria o mundo inteligível baseado na razão em que o senso crítico é uma premissa.

 

Na alegoria narrada por ele, devemos imaginar uma situação em que algumas pessoas são prisioneiras desde sempre e são mantidos acorrentadas em uma caverna. Lá há uma fogueira e eles conseguem ver apenas as sombras projetadas nas paredes de algo que eles nunca viram de fato. Aquilo é o que os olhos deles veem desde sempre e o que eles têm como realidade. Junte a isso os seus outros sentidos, que contribuem para a construção da realidade. O que eles conhecem de realidade é apenas o que eles veem, ouvem, cheiram, sentem na pele (frio, calor...) etc. É o mundo dos cinco principais sentidos [sim, porque há bem mais que cinco sentidos, certo?].

 


 

Fonte imagem: https://conhecimentocientifico.com/mito-da-caverna-2/

 

Entretanto, estas pessoas, que acreditam que apenas o que seus cinco principais sentidos lhes apresentam, não pensam, em um primeiro momento, que estas imagens podem estar, de alguma forma, sendo produzida por outras pessoas com o objetivo de fazer com que creiam em algo que não necessariamente é verdade ou é real. A própria sombra em si já é algo que poderia vir de algo não real. Entretanto, mesmo as sombras de um objeto ou animal não é, de fato, o objeto ou o animal, respectivamente.  


Adicione a isso que esta sombra poderia estar sendo, propositalmente, projetada a partir de coisas que não são reais por fomentadores de ideias. A ilustração seguinte mostra como seria isso, nesta alegoria.

 


 

Na narrativa, um dos prisioneiros consegue se livrar das correntes e ver o mundo tal qual ele é de verdade (se bem que ele ainda estaria usando os cinco sentidos para ver esse novo mundo, mas tudo bem...). Você já deve ter estudado sobre a Alegoria da Caverna em aulas de Filosofia na escola e se não estudou e quer beber na fonte, leia o livro mencionado no início desta postagem ou acesse diversos materiais disponíveis na internet como texto (aqui mesmo foi citado uma fonte - na primeira imagem) e há vídeos no YouTube que falam sobre isso.

 

Onde podemos ver a Alegoria da Caverna?

Em filmes, eu posso citar alguns em que você verá de forma clara isso como por exemplo:
  • Matrix (1999, Irmãs Wachowski): Neste filme, a própria Matrix é a sombra na caverna, pois é a projeção da realidade.
  • O Show de Truman (1998, Peter Weir): Neste filme a vida da personagem principal é a sombra na caverna, pois nada daquilo é real.
  • Ilha do Medo (2010, Martin Scorsese): Neste filme, nada que a personagem principal vê e vivencia é real e a vida desta pessoa é a própria sombra na caverna.

Esses três filmes eu vi, mas há outros que não vi ainda e que deixo como sugestão que visitem ESTA MATÉRIA em que o autor da postagem elenca 10 filmes em que você pode perceber a Alegoria da Caverna. Quando estiver vendo, tente perceber o que seriam as "sombras na caverna" ali... 

 

Podemos perceber a Alegoria da Caverna no cotidiano de muitas pessoas. Há algum tempo a TV poderia ser vista como a sombra na caverna, pois mostrava algo que não era real para muitas pessoas em teledramaturgias e também em cobertura jornalísticas, haja vista que todas as notícias que chegam ao telespectador foram passadas pelo filtro de vários profissionais e assim, estamos vendo o mundo pela lente (literalmente) deles

 

Dependendo do que se está reportando, uma cobertura de um evento por uma rede de notícias ou por outra, verá que parece que falam de coisas completamente diferentes: por exemplo: Bolsonaro na ONU. Procure por notícias veiculadas pela Rede Record e pela Band ou Globo. São as sombras projetadas da realidade. O que é realmente real?

 

Vou deixar aqui dois vídeos para você ver, se você quiser. O primeiro explica o porquê das notícias serem diferentes em diferentes veículos. Basicamente ele explica que notícia é um produto.

O próximo vídeo fala sobre os cinco grandes filtros que as redes de notícias usam. Nele você pode entender como são pautadas as notícias e entender que o que você vê é escolhido para que você veja aquilo. A sombra que cada rede projeta na parede da caverna pode mudar dependendo de uma rede ou outra. Você pode ver, se você quiser, é claro. 

Hoje há também as Redes Sociais em que muitas pessoas enxergam o mundo pelas lentes das redes sociais e lá, a realidade parece ser sempre melhor do que aquela que vivenciamos. É um mundo ficcional em que as pessoas tentam mostrar, em muitas vezes, o que elas não são. 

 

E onde entra a religião?

Pois é... Comecei esse texto pretendendo falar de como a religião é, também, uma sombra projetada no fundo da caverna. Até por não ser algo que se possa comprovar por meio de algum experimento, as pessoas tendem a acreditar no que fala o pastor, padre, guru etc.
 
A realidade projetada no fundo da caverna pode ser o que as pessoas acreditam como sendo verdades que foram falada pelos seus líderes religiosos (sejam eles quem forem). Algumas pessoas já nasceram dentro de ambientes religiosos e o que elas acreditam é o que ela cresceu ouvindo. Raramente a pessoa dá um passo atrás e questiona se tudo aquilo ali faz sentido e quando fazem isso, se sentem com a consciência pesada. Imagino que seja como se estivesse traindo seus princípios.
 
Eu acredito que exista pessoas religiosas boas que realmente se preocupam em levar uma mensagem de fé para as pessoas e que veem isso como uma missão de vida. Eu até acredito que a religião teve um papel social ao longo da história. Além disso, ainda hoje, religiões podem trazer, para quem acredita, conforto aos corações dos aflitos, esperança a quem não tem a quem recorrer como por exemplo alguém doente em um estado terminal.
 
Mesmo que a imagem da sombra projetada no fundo da caverna (religião) não seja algo que venha, necessariamente, de algo real, é reconfortante, em alguns casos (para quem acredita), pensar que há algo maior do que nós. Eu penso que esta "sombra na caverna" será sempre uma sombras porque toda a religião é calcada em dogmas e pela própria definição da palavra dá para se perceber que ninguém pode contestá-los.

 

Dogma é um termo de origem grega que significa literalmente “o que se pensa é verdade”. Na antiguidade, o termo estava ligado ao que parecia ser uma crença ou convicção, um pensamento firme ou doutrina. (...) Os dogmas proclamados pela Igreja Católica devem ser aceitos como verdades reveladas por Deus através da Bíblia. São irrevogáveis e nenhum membro da Igreja, nem mesmo o Papa, tem autoridade para os alterar. São exemplos de dogmas a Existência de Deus e da Santíssima Trindade, Jesus Cristo é Filho Natural de Deus, a Virgindade e Assunção de Maria, entre outros. 

 Fonte: https://www.significados.com.br/dogma/ 

 

É como se, na Alegoria da Caverna, alguém dissesse que aquela sombra é isso e a outra é aquilo e que ninguém pode questionar porque isso foi revelado por Deus através da Bíblia. Consegue perceber a comparação entre a Alegoria da Caverna e a Religião? 

 

Os fomentadores de ideias dentro da religião

Aqui vamos nos concentrar por um momento nos formadores de ideias. Apesar de haver pessoas que trabalhem para projetar imagens boas no fundo da caverna, sem pedir nada em troca, ou pedindo pouco, não podemos fechar os olhos para aqueles que usam a fé das pessoas como instrumento de manipulação.
 
É como aquelas pessoas ali atrás da parede (na imagem abaixo que estão, propositalmente, projetando imagens nas paredes que não são reais.

 


Observe novamente esta imagem... 

Quem faz muito isso é a chamada Teologia da Prosperidade em que a imagem projetada é aquela em se tem uma ideia pré-moldada que é 'vendida', literalmente, como verdadeira, mas, assim como no desenho não há um cavalo, homem ou pássaro, não há lastro para o que as pessoas falam: "doe tudo o que você tem para a igreja e receberá em dobro tudo o que doar a Cristo" ou algo do tipo. Isso é uma sombra projetada no fundo da caverna. "Ah, mas fulano ficou bem de vida depois que ele doou seu apartamento para a igreja". Posso lhe garantir que não é nada que a Lei dos Grandes Números não possa explicar. ISSO É UMA GRANDE SOMBRA PROJETADA NO FUNDO DA CAVERNA. 

 

Considerações finais

 Religião, de um modo geral, é, pra mim, um conjunto de imagens projetadas na Alegoria da Caverna. Algumas das imagens podem fazer bem a algumas pessoas, algumas podem fazer com que se perca tudo que tem e isso, com certeza, não é bom, mas de qualquer modo, são apenas sombras. Acreditar ou não é do foro íntimo de cada um. Eu não acredito em religiões. Eu não acredito em seres humanos, mas isto sou eu. Cada um é livre para acreditar no que quiser.

 

Eu queria terminar sugerindo um livro que li e não canso de recomendar porque achei muito, mas muito bom mesmo... O nome do livro é Sapiens do Israelense Yuval Noah HARARI (Capa a seguir). 

 
Veja detalhes do livro AQUI

 Em particular, para o tema que estamos discutindo, sugiro que leiam a parir da p. 46 quanto o autor está falando de narrativas ficcionais na história da humanidade... Dá para se ter uma ideia de como podemos ter chegado onde estamos hoje 

 

(...) Quase da mesma forma [ele estava falando sobre a companhia Peugeot e leis criada, em particular na França] como padres e feiticeiros criaram deuses e demônios ao longo da história e como milhares de padres franceses continuam a criar o corpo de Jesus Cristo todos os domingos nas igrejas. Tudo gira em torno de contar histórias e convencer as pessoas a acreditarem nelas. (...) 

Sapiens, HARARI, p. 46, logo no começo. 

 
Grande abraço.
Luís Cláudio LA

 


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