A Alegoria da Caverna é uma metáfora narrada por Platão, que continua bem atual, diga-se de passagem, em que é possível traçar vários paralelos com a vida de hoje e é sobre um desses paralelos que quero falar neste pequeno texto: a religião.
Fonte imagem: https://conhecimentocientifico.com/mito-da-caverna-2/
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Entenda o que é neste vídeo de pouco mais de 1 min.
A referida alegoria está em um livro chamado A República, obra que discute a teoria do conhecimento, linguagem e educação para a construção de um Estado ideal. Um tema bem atual, se parar para pensar.
Veja mais detalhes sobre o livro AQUI.
A Alegoria da Caverna
Neste livro (acima) Platão narra
um diálogo travado entre Glauco e Sócrates, em que este conta uma
história a Glauco para falar-lhe sobre o conhecimento humano. Para isso
ele usa este recurso linguístico que hoje chamamos de alegoria
para tentar explicar senso comum do mundo sensível em que muitas
pessoas acreditam no que os seus sentidos lhes proporcionam. Na outra
ponta estaria o mundo inteligível baseado na razão em que o senso
crítico é uma premissa.
Na alegoria narrada por ele, devemos imaginar uma situação em que
algumas pessoas são prisioneiras desde sempre e são mantidos
acorrentadas em uma caverna. Lá há uma fogueira e eles conseguem ver
apenas as sombras projetadas nas paredes de algo que eles nunca viram de
fato. Aquilo é o que os olhos deles veem desde sempre e o que eles têm
como realidade. Junte a isso os seus outros sentidos, que contribuem
para a construção da realidade. O que eles conhecem de realidade é
apenas o que eles veem, ouvem, cheiram, sentem na pele (frio, calor...)
etc. É o mundo dos cinco principais sentidos [sim, porque há bem mais
que cinco sentidos, certo?].
Fonte imagem: https://conhecimentocientifico.com/mito-da-caverna-2/
Entretanto, estas pessoas, que acreditam que apenas o que seus cinco principais sentidos lhes apresentam, não pensam, em um primeiro momento, que estas imagens podem estar, de alguma forma, sendo produzida por outras pessoas com o objetivo de fazer com que creiam em algo que não necessariamente é verdade ou é real. A própria sombra em si já é algo que poderia vir de algo não real. Entretanto, mesmo as sombras de um objeto ou animal não é, de fato, o objeto ou o animal, respectivamente.
Adicione a isso que esta sombra poderia estar sendo, propositalmente, projetada a partir de coisas que não são reais por fomentadores de ideias. A ilustração seguinte mostra como seria isso, nesta alegoria.
Na narrativa, um dos prisioneiros consegue se livrar das correntes e ver o mundo tal qual ele é de verdade (se bem que ele ainda estaria usando os cinco sentidos para ver esse novo mundo, mas tudo bem...). Você já deve ter estudado sobre a Alegoria da Caverna em aulas de Filosofia na escola e se não estudou e quer beber na fonte, leia o livro mencionado no início desta postagem ou acesse diversos materiais disponíveis na internet como texto (aqui mesmo foi citado uma fonte - na primeira imagem) e há vídeos no YouTube que falam sobre isso.
Onde podemos ver a Alegoria da Caverna?
- Matrix (1999, Irmãs Wachowski): Neste filme, a própria Matrix é a sombra na caverna, pois é a projeção da realidade.
- O Show de Truman (1998, Peter Weir): Neste filme a vida da personagem principal é a sombra na caverna, pois nada daquilo é real.
- Ilha do Medo (2010, Martin Scorsese): Neste filme, nada que a personagem principal vê e vivencia é real e a vida desta pessoa é a própria sombra na caverna.
Esses três filmes eu vi, mas há outros que não vi ainda e que deixo como sugestão que visitem ESTA MATÉRIA em que o autor da postagem elenca 10 filmes em que você pode perceber a Alegoria da Caverna. Quando estiver vendo, tente perceber o que seriam as "sombras na caverna" ali...
Podemos perceber a Alegoria da Caverna no cotidiano de muitas pessoas. Há algum tempo a TV poderia ser vista como a sombra na caverna, pois mostrava algo que não era real para muitas pessoas em teledramaturgias e também em cobertura jornalísticas, haja vista que todas as notícias que chegam ao telespectador foram passadas pelo filtro de vários profissionais e assim, estamos vendo o mundo pela lente (literalmente) deles.
Dependendo do que se está reportando, uma cobertura de um evento por uma rede de notícias ou por outra, verá que parece que falam de coisas completamente diferentes: por exemplo: Bolsonaro na ONU. Procure por notícias veiculadas pela Rede Record e pela Band ou Globo. São as sombras projetadas da realidade. O que é realmente real?
Vou deixar aqui dois vídeos para você ver, se você quiser. O primeiro explica o porquê das notícias serem diferentes em diferentes veículos. Basicamente ele explica que notícia é um produto.
- Por que as notícias são diferentes em diferentes veículos? https://youtu.be/Etr5vZPCDYg
O próximo vídeo fala sobre os cinco grandes filtros que as redes de
notícias usam. Nele você pode entender como são pautadas as notícias e
entender que o que você vê é escolhido para que você veja aquilo. A
sombra que cada rede projeta na parede da caverna pode mudar dependendo
de uma rede ou outra. Você pode ver, se você quiser, é claro.
- Filtros de manipulação: como a grande mídia nos manipula: https://youtu.be/lXXx9pDqtLI
Hoje há também as Redes Sociais em que muitas pessoas enxergam o mundo
pelas lentes das redes sociais e lá, a realidade parece ser sempre
melhor do que aquela que vivenciamos. É um mundo ficcional em que as
pessoas tentam mostrar, em muitas vezes, o que elas não são.
E onde entra a religião?
Dogma é um termo de origem grega que significa literalmente “o que se pensa é verdade”. Na antiguidade, o termo estava ligado ao que parecia ser uma crença ou convicção, um pensamento firme ou doutrina. (...) Os dogmas proclamados pela Igreja Católica devem ser aceitos como verdades reveladas por Deus através da Bíblia. São irrevogáveis e nenhum membro da Igreja, nem mesmo o Papa, tem autoridade para os alterar. São exemplos de dogmas a Existência de Deus e da Santíssima Trindade, Jesus Cristo é Filho Natural de Deus, a Virgindade e Assunção de Maria, entre outros.
Fonte: https://www.significados.com.br/dogma/
É como se, na Alegoria da Caverna, alguém dissesse que aquela sombra é
isso e a outra é aquilo e que ninguém pode questionar porque isso foi
revelado por Deus através da Bíblia. Consegue perceber a comparação
entre a Alegoria da Caverna e a Religião?
Os fomentadores de ideias dentro da religião
Quem faz muito isso é a chamada Teologia da Prosperidade em que a imagem
projetada é aquela em se tem uma ideia pré-moldada que é 'vendida',
literalmente, como verdadeira, mas, assim como no desenho não há um
cavalo, homem ou pássaro, não há lastro para o que as pessoas falam: "doe tudo o que você tem para a igreja e receberá em dobro tudo o que doar a Cristo" ou algo do tipo. Isso é uma sombra projetada no fundo da caverna. "Ah, mas fulano ficou bem de vida depois que ele doou seu apartamento para a igreja". Posso lhe garantir que não é nada que a Lei dos Grandes Números não possa explicar. ISSO É UMA GRANDE SOMBRA PROJETADA NO FUNDO DA CAVERNA.
Considerações finais
Religião, de um modo geral, é, pra mim, um conjunto de imagens projetadas na Alegoria da Caverna. Algumas das imagens podem fazer bem a algumas pessoas, algumas podem fazer com que se perca tudo que tem e isso, com certeza, não é bom, mas de qualquer modo, são apenas sombras. Acreditar ou não é do foro íntimo de cada um. Eu não acredito em religiões. Eu não acredito em seres humanos, mas isto sou eu. Cada um é livre para acreditar no que quiser.
Eu queria terminar sugerindo um livro que li e não canso de recomendar porque achei muito, mas muito bom mesmo... O nome do livro é Sapiens do Israelense Yuval Noah HARARI (Capa a seguir).
Em particular, para o tema que estamos discutindo, sugiro que leiam a parir da p. 46 quanto o autor está falando de narrativas ficcionais na história da humanidade... Dá para se ter uma ideia de como podemos ter chegado onde estamos hoje
(...) Quase da mesma forma [ele estava falando sobre a companhia Peugeot e leis criada, em particular na França] como padres e feiticeiros criaram deuses e demônios ao longo da história e como milhares de padres franceses continuam a criar o corpo de Jesus Cristo todos os domingos nas igrejas. Tudo gira em torno de contar histórias e convencer as pessoas a acreditarem nelas. (...)
Sapiens, HARARI, p. 46, logo no começo.
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